sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Boletim

Não há ataque de lucidez que resista aos cinco minutos do seriado dos geeks. O que são aqueles quatro?? Eles fazem os homens parecerem ainda mais engraçados do que são na vida real. E os diálogos? Demonstram que existe vida inteligente quando não se esquece que humanos são humanos, só mudam  a layout e o grau de hipocrisia com que são representados. Sheldon classificando  o presente de Penny como uma armadilha para criar nele a obrigação de reciprocidade é uma das racionalidades estúpidas mais engraçadas que jamais ouvi. 
O mais difícil para uma pessoa que gosta de conviver com as pessoas legais é admitir que nem sempre essas pessoas querem conviver com a gente. Pessoas legais podem querer, inclusive, conviver o mínimo com a gente. Por exemplo, podem quer apenas tomar um café no trabalho ou dar uns beijos.
Não acho que isso faça das pessoas legais pessoas menos legais. Uma amiga minha diz que elas estão apenas escolhendo, como  numa prateleira de supermercado e, na maioria das vezes, combinando ingredientes. Fulana não gosto de beltrano. Então, eu convido para o chope um e não convido a outra. Suponho que seja isso que essas pessoas pensam. Evitam conflitos.
Um amigo meu viajou com a família para não passar a festa de final de ano com a mulher que está saindo. Não quer que ela pense que ele está a fim de maiores compromissos. É uma maneira educada de manter distância.
O que tenho um pouco mais de dificuldade de entender é a necessidade de hostilizar as pessoas com quem se gosta (ou gostaria ) de ir para cama, mas não combinam com a vida que se leva. Um dia desses, um cara que gosta muito de mim para trabalhar e tomar café e, suponho, gostaria muito de ir para cama comigo, teve uma atitude de hostilidade disfarçada.
O que é hostilidade disfarçada? É aquela que não deixa provas, não deixa marcas, se a outra pessoa reclamar, se queima. 
Escrevi  aqui, outro dia, sobre o que me parecia a diferença entre tolo/inocente e burro/reincidente.
Pois bem, sou tola, mas tenho evitado ser burra. Não reagi à atitude de hostilidade disfarçada. Mas baixei o cara no quesito esperteza. Porque homens legais devem  ser espertos o bastante para saberem que só dá para ser hostil com mulher a quem se beija na boca. Porque beijo na boca compensa tudo.
É isso. Vou para rua agora. Vou à vida.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Vida alheia

Um colega meu de trabalho descobriu a psicanálise e se tornou um chato, coitado. Ele fica classificando as pessoas segundo conceitos recém adquiridos. Paixão total, daquelas que a gente delira, pensa na pessoa dia e noite,  é obsessão, defesa de ponto de vista  de forma mais calorosa é conflito com autoridade paterna e, o pior de tudo, chegar mais perto dele, debaixo do guarda-chuva, temporal derretendo a cidade,  é jogo de sedução. O baixinho está se achando.
Outra colega voltou das férias linda, linda. Magra. Fui elogiar e ela me contou que foi no médico que atende a  mulher do nosso chefe.   O sujeito passou um antidepressivo mais três comprimidos de cores diferentes mais um remédio para pré diabete. Mas você está diabética? Perguntei  já com medo do meu gosto por brigadeiros e quindins. Não, mais posso ficar. Então, você ficou linda assim sem passar fome? Não, explicou ela, na maior paciência. Perdi aquele desespero que eu tinha de comer e meu metabolismo ficou mais acelerado.
Ainda pensei em pesquisar na Internet essa história de mexer com insulina e seritonina para emagrecer, mas depois pensei: já tenho tanta coisa para pesquisar e ainda vou cuidar da vida dos outros?

domingo, 26 de dezembro de 2010

O taro do Osho


Hoje,  zapeando na Internet encontrei uma tradução interessante para a palavra Tolo. É a pessoa que por mais que seja enganada, sempre confia. Achei legal essa abordagem porque, em geral, o que mais se escuta sobre uma pessoa enganada é: como foi que ela permitiu isso? Não permitiu. Confiou.
Foi aí que me ocorreu, também, essa diferença entre tolice e burrice. Porque se a tolice está ligada à inocência, a burrice está ligada à consciência, à procura de alguma coisa ruim. A pessoa declara que vai torpedear o que o outro está fazendo e o outro ainda convida para participar. É muito.
Passei o domingo com uma amiga no Saison em Itaipava. A mãe dela foi para lá ontem, à tarde, se desintoxicar do Natal, convidou a filha e como eu sou uma pobre órfã de mãe, com o pai trancafiado num aeroporto em Londres, por causa da nevasca, fui  na aba. Uma delícia. Comida gostosa, quase sem sal, para os meus padrões, massagem deliciosa, hidroginástica, corrida na água, alongamento, voltamos revigoradas. A mãe da minha amiga é chiquérrima, trabalhou como estilista a vida inteira, entende tudo de moda e é super, hiper bem educada. Não disse nada dos nossos modelitos desleixados.
Estou brincando, rolando na cabeça, meu graphic novel. Um caminho que está indo e voltando é o de apresentar logo tudo o que vem pela frente. Só depois entrar no presente.  Só de escrever isso, me apareceu uma sequencia inteira.
É interessante observar crianças que não são nossas, crianças que a gente não tem contato diário. Dá para notar em que medida os pais estão ensinando os seus medos, seus preconceitos, suas qualidades. Semana passada fui ao Gula Gula de Ipanema com uma colega que estudou comigo no São Vicente, ela engravidou no finalzinho da faculdade, enfim, filho estava com uma fitinha n braço, dessas de fazer pedido, e a fita arrastava na comida todas as vezes em que ele mexia no prato. A mãe não conversou. Abriu a bolsa,  pegou a tesourinha de unha, cortou a fita e jogou fora. Mas e o desejo? Perguntou o garotinho de seis anos. Já deu tempo de realizar, respondeu minha amiga. Será que eu teria coragem de fazer isso? Provavelmente, não.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Balanço

Observo que muita gente escreve generalidades geniais sobre a vida. Geniais talvez seja exagero, mas são generalidades que se caracterizam pela não exposição.
Não consigo escrever generalidades. Só sei escrever me expondo.
Comecei a fazer um balanço de 2010 e das boas decisões que tomei. Não gosto de lembrar  das ruins. Não adianta nada.
Uma das melhores coisas que aprendi em 2010 é que as pessoas escolhem amores e amigos  em função do que combina mais com elas.
Outra coisa bem legal: reconhecer  a generosidade e dedicação de cada presente que me foi dado em 2010.
Às vezes, as pessoas não gostam da gente o bastante para conviver de perto, mas gostam o suficiente para dedicar um pouco do seu tempo. Isso é bacana.
Por outro lado, aprendi também a não dar mais do que recebo.
Ontem, escrevi coisas bem pessoais, passionais, intensas, aqui. Depois das 24 horas, apaguei tudo e comecei esse balanço.
Eu tinha a mania de buscar por conciliação, por manter contradições, papéis. Isso não funciona. Certas pessoas simplesmente não combinam. São legais, mas contraditórias demais.



sábado, 18 de dezembro de 2010

Boa noite, Cinderela

Ouvi  a conversa de duas mulheres ontem, na lanchonete da emissora, sobre um cara  que misturou alguma coisa na bebida de uma garota e depois fez sexo com ela dopada.
Sei que vocês vão achar que vivo escutando conversas dos outros e vivo mesmo. É porque estou construindo meu personagem e, a  cada história que escuto me pergunto: como ele reagiria?
Uma das mulheres, uma bonitona super decidida, ficou horrorizada com a história (eu também fiquei) e mais horrorizada ainda dele contar. Porque isso é estupro, crime, e o sujeito conta.  Ele conta, a colega escuta e propaga a fofoca sem denunciar o sujeito.
Imagino que seja porque denunciar os amigos é feio.  Mas, se fosse meu amigo, eu...Ia escrever que denunciava, mas acho que não. Eu brigava com ele, mas tomar uma providência radical como procurar a polícia, contar para a garota ou para o chefe, acho que não teria coragem.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Quando eu crescer...

quero viajar para a Turquia.
Quando eu crescer, quero aprender ficar perto de gente generosa e corajosa que não tenha medo de se expor, persistir, amar.
Quando eu crescer, quero aprender outras linguagens, talvez música, quem sabe matemática.
Quando eu crescer, quero conhecer pessoas capazes de abrir mão do conforto de suas convicções e capazes de enxergar  o mundo pelos olhos alheios.
Quando eu crescer, quero aprender a comer pelo paladar e a usar drogas sem me entorpecer.
Quando eu crescer quero ter a minha volta gente capaz de partilhar não só risos, mas também lágrimas, não só derrotas, mas também vitórias..
Quando eu crescer quero ser capaz de administrar solidão e memória para quando estiver sozinha não me dedicar ao inventário da coisas ruins feitas pelas pessoas que  não são capazes de mudar certos padrões.
Quando eu crescer, quero ser grande.

domingo, 28 de novembro de 2010

Perdedores diversos

Acho que o protagonista do meu graphic novel precisa ser um pouco mais velho do que eu tinha pensado inicialmente. Menos inocente também. Menos solitário? Isso não sei.
O pai dele está ocupando meus pensamentos agora. Acho que é por causa da situação no Rio de Janeiro. No caso do pai do meu personagem, ele já levava uma vida boa, ganhava muita grana, tinha a mulher dele e outras, mas precisou ganhar ainda mais. Se associar ao crime, usar drogas, arranjar amantes desleais.  É como se o cara quisesse perder, como se fosse um impulso de arriscar sem necessidade. Como se ele se dar bem não bastasse, precisasse também ferrar com tudo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Vida dupla

Tenho um amigo que é baterista e leva  vida dupla.  Namora uma moça quietinha com quem ele almoça com os pais no domingo e apronta com todas que ele encontra na night. Depois, ele comenta comigo as falcatruas com as garotas, as cantadas, as invenções para não continuar.  Tenho um amigo que é geek e pensa que é um cara moderno, só porque namorou uma das minhas amigas mais malucas, mas eu,  que conheço a família toda, sei que   está ficando igualzinho ao pai dele.  Meu amigo geek diz que eu não devia ter um blog como personagem. Mas todo mundo é personagem, apenas nem todos sabem que são.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Presentes

Eu quero muito ter um filho. Não é só por causa dos meus 29 anos, relógio biológicos e  afins. É porque... muitos motivos. Mas não é disso que eu quero falar. Ontem, almoçando aqui no trabalho, escutei a conversa da mesa vizinha. Duas garotas grávidas. Uma do namorado, outra do marido. Super casamento, festa no Museu Histórico, doces maravilhosos, só de pensar eu engordo. A família dela pode, só trabalha porque gosta de ser independente. Bacana isso, não é?
Estou me desviando do assunto, mas explico. Desenhar exige tanta concentração que na hora que escrevo divago. Uma contava para outra dos presentes da mãe  quando soube da notícia. A amiga perguntou se ela não tinha medo que a mãe ficasse muito invasiva com essa participação toda. Ela respondeu que não, ela e o marido já tinham dado uma “limitada” na mãe dela.
Eu que não tenho mãe achei a conversa estranha. Será que meu filho, esse que eu planejo ter um dia – tenho certeza que meu primeiro filho vai ser um menino – vai comentar no restaurante do trabalho que colocou limites em mim?
Acho que eu não daria presente caro para uma filha que me colocasse limites.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Meus amigos

Tenho uma amiga no trabalho que dorme o fim de semana inteiro, dança o final de semana inteiro ou mente para mim toda segunda de manhã. A gente combina terminar alguma coisa no sábado ou domingo e ela nada. Quando diz que vai fazer, eu já nem ligo.

Estou evoluindo. Não me zango mais com meus amigos que só se comunicam pelo Facebook, não respondem nem pelo Facebook, esquecem compromissos. Mentira. Fico puta, mas só por 20, 30 minutos. Depois, respiro fundo, rabisco num papel qualquer uma carinha ridícula inspirada em quem aprontou a indiferença, enfio na bolsa. De vez em quando jogo tudo o que está na bolsa em cima da mesa e tenho dificuldade de reconhecer a fonte de inspiração de minha raiva.

A imagem rabiscada, para mim, é como um auto exorcismo. Se é que isso existe.

É assim que mantenho os amigos. Não xingo para fora, não xingo para dentro, rabisco e jogo fora.